sexta-feira, outubro 01, 2010

Logos Bible Software

Hoje decidi-me a escrever novamente no meu (quase defunto) blog. E escrevo incentivado pela ideia de poder vir a ganhar algo com isto. Mas também porque, realmente, o Logos Bible Software é um excelente software para estudo bíblico. Sugiro uma saltada a www.logos.com. Estão agora a lançar a versão Mac. Aproveitem os descontos que estão a fazer neste Outono para adquirir um pacote. Aproveitem também e vejam a possibilidade de ganhar prémios só por criar um post como este, entre outros. (http://www.logos.com/mac)

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Linha de Trás

Hoje saltou-me a tampa ao ver a forma como trataram o "Lar Betânia" na reportagem do programa "Linha da Frente" na RTP1. Desta vez não me calei. Escrevi para o provedor e, claro, para o próprio programa. Segue a carta

Exmos. Srs.,

Costumo ver com atenção (embora nem sempre) a emissão do programa Linha da Frente. Regra geral, o jornalismo que ali se pratica aparenta ser sério e informado. No entanto, desta feita, serve o presente e-mail para demonstrar a minha indignação perante a forma parcial, descuidada, mal informada e difamatória como foi tratado o Lar Betânia e, em geral, a comunidade evangélica na reportagem desta Quarta-feira, 20 de Janeiro.

Em primeiro lugar, não procuraram perceber o modo de funcionamento das instituições. Misturaram "alhos com bugalhos". A Aliança Evangélica Portuguesa (AEP) não é proprietária de nenhum lar nem tem qualquer responsabilidade ou supervisão sobre ele. A AEP não é a cúpula de uma hipotética Igreja Evangélica nacional ou internacional (que não existe, de todo). A AEP é uma associação de igrejas (e pessoas singulares ou colectivas) que são completamente independentes entre si. O Portal Evangélico limita-se a publicitar o que os membros da Aliança fazem, os ministérios que desenvolvem, etc. Estou em crer até que estas confusões poderiam ter sido debeladas facilmente na entrevista que fizeram ao pastor assembleiano em Fanhões.

Em segundo lugar, a APEC, com sede em Vendas Novas, não está, de forma alguma, ligada ao Lar Betânia, excepto no facto de, tanto quanto julgo saber, ambas serem membros da AEP e ambas trabalharem com crianças. O uso do Google para encontrar este tipo de relações é de uma infantilidade atroz. É o tipo de coisa que eu critico nos meus alunos e dói-me ver um tão mau exemplo na televisão, ainda por cima num canal público e em horário nobre.

Em terceiro lugar, a vossa reportagem insinuou continuamente, a partir de dada altura, que as crianças são obrigadas a ir ao culto evangélico da Igreja Assembleia de Deus de Vendas Novas e que são tratadas de forma descuidada pelos funcionários no trajecto para lá. Em relação à obrigatoriedade, o facto é que isso não corresponde à verdade. O próprio pastor entrevistado o disse. Mais: as vossas imagens permitiam concluir isso mesmo, visto que, das 29 crianças ali institucionalizadas, apenas vi entrarem na igreja 3 (daquela vez em que diziam não haver supervisão) e, num outro momento (claramente em outro dia e com supervisão) 4 ou 5 crianças. Quanto à supervisão, é, no mínimo, difamatório concluir, com base em apenas alguns segundos de observação, que elas costumam estar desacompanhadas. Além disso, nos frames seguintes vê-se um adulto a acompanhar as crianças. Por que será que não se comentou também esse facto?

Finalmente, pergunto: se o lar fosse propriedade da Igreja Católica (ou até mesmo de algum grupo muçulmano) será que o tratamento jornalístico seria igual? Como sabem, é prática corrente das instituições católicas a obrigatoriedade de assistência aos serviços religiosos das instituições em que se inserem.

Eu próprio (e dois dos meus irmãos) frequentámos uma escola parcialmente (sublinho: parcialmente) propriedade da Ordem de Jesus, cuja outra metade da propriedade era de uma Câmara Municipal, e era obrigatório assistir a vários serviços religiosos ali. O dinheiro pago para eu frequentar a escola era pago integralmente (não parcialmente) pelo estado português. Inclusivamente, as instalações, apesar de propriedade dos jesuitas, haviam sido construídas, na sua maioria, com dinheiros públicos: fundos comunitários e dinheiro de dois municípios. Era até obrigatória a frequência de aulas de religião e moral católicas, ainda por cima mascaradas com o nome de Formação Integral, e a participação activa em serviços religiosos (era obrigatório tocar em pelo menos duas ocasiões no ano durante uma missa). Sublinho que não era uma participação passiva, mas sim activa.

Esta reportagem quis fazer passar a imagem, de forma subtil, de uma comunidade fechada que procura fazer lavagens ao cérebro das crianças que lhe são confiadas. Há inúmeras igrejas evangélicas e instituições ligadas às igrejas evangélicas. Comunidades, regra geral, bem pequenas. Não são propriedade do estado; o Estado celebra com elas contratos de colaboração. Mas o dinheiro raramente chega para as necessidades. Há muito financiamento que entra por donativos de pessoas anónimas. São estas instituições que muitas vezes prestam os serviços que mais ninguém quer fazer. Estão na linha da frente a cuidar das nossas crianças quando os pais não o podem fazer. Estão na linha da frente para cuidar dos nossos idosos quando os seus descendentes não o podem (ou não querem) fazer, ou quando não há família. Estão na linha da frente no tratamento da toxico-dependência, do abuso do álcool e do tabaco. Estão na linha da frente no apoio a mulheres vítimas de violência doméstica. Estão na linha da frente no apoio a quem vive da prostituição. Estão na linha da frente a prestar auxílio a pessoas sem abrigo. Estão na linha da frente a cuidar de grávidas/mães solteiras/divorciadas que não têm condições de providenciar para os seus filhos os cuidados necessários. Estão na linha da frente quando tratam de crianças que vivem na rua e são acolhidas e cuidadas.

Não estou a falar de cor. Sei de várias histórias na primeira pessoa para quase todos os exemplos que dou. São amigos meus que passaram por situações que, provavelmente, os senhores jornalistas nem imaginam que possam acontecer em Portugal. São pessoas normais, como os senhores e eu, que agradecem todos os dias por essas instituições e pelas pessoas que ali trabalham e dão do seu esforço para fazer das vidas dos outros uma vida melhor. O seu trabalho e esforço não pode ser posto em causa. Eles são a verdadeira Linha da Frente.

Atentamente,
Jónatas Ferreira